A minha vida foi…

Pra que eu nasci assim, sentido o desprezo das pessoas? Até hoje eu vivi vendo as pessoas que eu gosto sem poder nem se quer olhar direito para elas. Eu nasci sem beleza, sem dinheiro, sem moral e sem grandes talentos, pode se dizer que eu sou a mediocridade em forma de ser humano.

Eu nunca soube o que é ser parado de carro por alguém que eu goste e que gosta de mim, ninguém  por quem eu me interessei jamais foi à minha casa me procurar, mesmo que morasse ali pertinho de mim, enquanto isso eu já atravessei o oceano por alguém que eu quis. Como as coisas foram desiguais pra mim nessa vida.

Desde pequeno eu sempre quis saber o que é namorar, fazer sexo e estar do lado daquela pessoa que eu acho interessante, no entanto no máximo o que eu consegui foram brigas violentas.

Com o surgimento da tecnologia eu pensei que a possibilidade de eu declarar os meus sentimentos a alguém e ser correspondido fosse aumentar, ledo engano: na internet os homens que eu gosto e os que gostei continuaram solenemente indiferentes a mim.

A minha vida toda eu fui um coadjuvante, sem brilho como a maioria das pessoas mas também sem vida sexual como a minoria das pessoas, até hoje as pessoas que eu gosto nunca são pra mim, as pessoas nunca foram pra mim, se eu quisesse alguém, tinha que me contentar com a imaginação ou então gostar de mulher ou um viado igual a mim, como se eu fosse uma criança que nunca pudesse ter o que quer mas sim o que os seus pais impõem. Por isso a minha vida toda eu me senti uma pessoa errada, uma pessoa daquelas que é tratada como mongoloide por não ter capacidade de ter o direito de gostar daquilo que gosta.

Como se já não fosse suficiente nascer viado gostando de machos de verdade, nessa vida eu aprendi a ter um corpo desprovido de beleza, mal cheiroso, rústico, cheio de doenças e disfunções estéticas que acabavam colaborando mais ainda para afastarem de mim qualquer tipo remoto de relacionamento sexual ou amoroso que por ventura pudesse acontecer.

Nunca soube o que é ser assediado, o que é ser paquerado, o que é receber uma paquera de quem a minha sexualidade se sentisse alegre. Cada homem lindo e hetero que eu vejo equivale a dor de uma facada em alguma parte do meu corpo ou mesmo uma ferroada, a vida toda me mostrou que homens, heteros e que me dessem atração legítima e não forçada, são apenas para as minhas amigas, para a minha mãe, para a vizinha do lado, para a minha patroa, mas nunca para mim.

Homem atraente só chegava perto de mim quando queria alguma mulher da minha convivência, nunca o contrário!
Nenhum cara interessante jamais tentou enrolar as mulheres que eu conheço para conseguirem chegar até mim, exceto quando o assunto é mendicância ou favores profissionais, aí sim, as pessoas me procuram.

Nessa como eu invejei as mulheres que posavam felizes em fotos ao lado de seus maridos e namorados, eu acho tão fantástico alguém que você admire e goste ao seu lado sorrindo sem ter vergonha ficar perto de você, eu canso de ver essas malditas juntas dos seus machos sorrindo, já eu, acho que nem nunca tirei foto com algum cara do meu lado, quanto mais sorrindo. Sempre que um homem que me interessasse passava por perto de mim eu já sabia que ele era para as minhas amigas ou pra minha mãe mas nunca pra mim.

É por tudo isso que a minha vida me parece sem sentido, é por tudo isso que eu sou meio deprimido e não tenho vontade realmente de nada.

E ainda , algumas pessoas que analisam a minha vida superficialmente enchem a boca para dizer que eu ando procurando o príncipe encantado.  Coitado de mim, se nem os sapos me querem, o que dirá os príncipes encantados. Eu já dei em cima de alguns caras destruídos, tortos e feios, mas nem eles me quiseram! Agora eu tenho obrigação, como sempre, de engolir goela abaixo a comida que eu não gosto, sair com qualquer pessoa que não me dá absolutamente nada a não ser raiva por estar levando pra casa um produto falsificado. Ora bolas, se for para eu sair por aí com qualquer coisa que não me dê vontade nenhuma, é mais simples, fácil e vantajoso pra mim sair com uma desgraça de uma mulher, pelo menos a mulher me daria algum tipo de valor, mesmo que temporário… Afinal, homem nenhum, brasileiro ou não, liga pra mim.

Quando eu respiro, eu sinto aquele vapor quente entrando no meu peito junto com uma tristeza, uma agonia, uma vontade de ficar quieto num canto chorando até não poder mais. A coisa que eu mais queria é ficar quieto num canto chorando por semanas e semanas, sem ser incomodado, mas nem isso eu posso, tenho que trabalhar se ainda quiser ter alguma coisa pra comer, tenho que aturar os meus parentes chatos que querem apenas eu como provedor econômico. Amor, definitivamente isso não existe na minha vida.

No trabalho eu tenho que fingir que sou uma pessoa sem sentimentos, as vezes eu vejo um rapaz bonito,aí eu tenho que fingir que não vi, as vezes umas pessoas felizes(claro, felizes porque transam toda hora com todo mundo) vem a mim me mandar fazer alguma coisa no trabalho, eu tenho que engolir a dor do meu peito  de novo e fingir que sou feliz também para não passar a impressão de ser uma pessoa mal humorada ou preguiçosa, ninguém entende que viver ignorando uma vontade do seu corpo gera vontade de não fazer absolutamente nada. Nisso eu fico em desvantagem profissional clara, afinal, no trabalho sempre a maioria são de pessoas heterossexuais que estão sempre com uma energia muito grande porque tem alguém para amar e ser amado. Amar não é problema, eu amo um monte de caras, o problema é ser amado por quem eu goste, isso aí, definitivamente não existe, é mais fácil a terra rachar no meio do que isso acontecer.

É por tudo isso que eu gosto de ficar na minha, isolado, evitar ver pessoas e tudo mais, afinal tem sempre um filho da puta que lhe causa atração e você tem que ficar fingindo que não sente nada.
Outro dia eu passei na porta de uma faculdade , centenas de jovens ouvindo música, bebendo e saudando sei lá o que, todos felizes e com vida nos olhos, fiquei tão deprimido, tão arrasado, tão triste, eu quis sair daquele local o mais depressa o possível, aquele lugar esfregava na minha cara o quanto eu era fracassado por ser homossexual.

 

 

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