Eu estava escutando aquela musica de funk cuja letra diz: “manda as suas amigas pra lá, cuidado pra elas não te dar perdido e vim aqui me dar…”. No clipe, um jovem com aparentemente uns 16 anos senta numa cama, conta uma história onde ele se enjoou de sua namorada e agora quer se livrar dela e de suas amigas. Aí começam a chegar as inúmeras amigas da sua ex na sua casa, todas com roupas que deixam bem claro a quem assiste que elas desejam atrair algum macho para copular.
Pois é, se um viado fizesse o mesmo clipe com um monte de rapazes jogadores de futebol chegando pra come-lo, já evocariam a desculpa da pedofilia…
Para o heterossexual, todo lugar é oportunidade de sexo farto: no clipe, no emprego, na vizinhança, no trem, no ônibus, no avião, no mar e no mato, em todos esses locais o heterossexual vai arrumadinho na desculpa de se arrumar para si mesmo mas lá no fundo de suas intenções ele se arruma sabendo que qualquer local pode ser o local para praticar o sexo com quem o interesse. Diferentemente de nós viados que quando gostamos de alguém, temos a obrigação de saber se é hetero, se é casado, se gosta ou não de ser paquerado, se fala duas ou mais língua e ainda por cima, alem de fazer todos esses questionamentos, nos dizem que temos que ter a autoestima maior do universo inteiro para atrairmos um cidadão com cara de bunda que faça favor de pensar em nos comer…
Todo homossexual sabe: enquanto nós lemos uns 500.000.000 de livros de autoajuda new age de autores milionários por aí, para com isso conseguirmos a tal autoestima que nos mandam ter para conseguir alguém, um heterossexual põe aquele chinelinho fuleiro, uma roupa qualquer que exiba suas partes sexuais(bermuda ou calça legging), vai pra rua, ali mesmo ele já conversa e consegue fazer sexo com a mulher do vizinho, com a mãe do amigo, com a mulher da quitanda, com a velha aposentada do outro lado da rua, enfim, eles não precisam conhecer os 600 conceitos de autoajuda que a psicologia de botequim nos prega para conseguir alguém.
Uma vez eu conheci duas amigas que trabalhavam na mesma empresa que eu, elas iam pra lá no mesmo ônibus que eu ia, eu pegava o ônibus no ponto final e elas bem mais a frente. Tinha um motorista que sempre entrava no ônibus com um cobrador especifico, o nome desse cobrador era Mário, ele era bonitinho, tinha olhos verde, aparentava uns 23 anos, alegre e dono de um olhar penetrante. Quase todos os dias eu o encontrava, ele puxava assunto comigo e as vezes olhava nos meus olhos todo feliz, eu me fazia de sério e não dava muita confiança pois eu já sabia muito bem como isso acaba terminando.
No dia a dia ao entrar no ônibus eu notava que Mário e o motorista eram sempre daquele jeito: comunicativos e confiantes com todos os passageiros, todas as mulheres davam confiança ao Mário e ele conversava com elas como se fossem amigos a tempos. Caí do cavalo pois eu achava que o cobrador só olha eu daquele jeito, na verdade ele era assim com todo mundo. Quem quiser saber mais ou menos como era o Mário, é só ver aquele dono do canal DoisBits no Youtube, só que de cabelos castanhos, olhos verdes e mais homem com a voz mais máscula do que a do dono do canal.
Bem, sempre que as minhas amigas entravam nesse ônibus, eu não entendia o motivo mas elas mesmo ganhando dinheiro para a condução, ficavam sempre na frente conversando com o motorista e o cobrador sem pagarem nada.
Numa sexta feira a tarde, eu estava no trabalho, era quase final de expediente, de repente, quem que chega de carro e entra dentro da empresa para pegar as minhas duas amigas? O tal motorista! Eu fiquei pensando: eu nesses mil anos vivendo como um viado numa vida sem graça, ninguém jamais foi na porta do meu trabalho me pegar de carro em troca de romance ou favores sexuais, muito menos o motorista de ônibus! Então minhas amigas, todas com ar de vitoriosas foram para o carro dele todas produzidas e eles se despediram. Descobri então que eles tinham um caso sexual! Teve uma vez até que esse motorista e esse cobrador sumiram com o ônibus num local afastado da periferia só para transarem com essas duas amigas minha!!! Que inveja eu tive! Nunca tive ninguém na vida, pra mim é impensável alguém arriscar o próprio emprego e os bens da empresa em que trabalha só para me encontrar sexo afetivamente. Isso pra mim é como cogitar a vida fora do planeta terra, é algo incalculável para a minha situação atual, foge totalmente à minha realidade. Como eu ficaria feliz em me sentir tão importante para alguém assim. Mas enfim…
Sabendo do ocorrido, conversei com essas duas amigas e perguntei a elas se elas poderiam servirem de cupido entre eu e o tal cobrador Mário. Pedi para elas perguntarem a ele o que ele acharia de ter um um “fã” como eu… Elas ficam muito alegres e excitadas para fazerem isso, lógico, para mulher a vida sexual de todo mundo é igual a vida delas: todo mundo está aberto para elas. As mulheres acham que só porque um homem é simpático com elas eles serão simpático conosco também, é um grande engano!
Pois bem, as meninas foram lá perguntar ao Mário se ele gostaria de me comer, claro, não com essas palavras. O rapaz simpático e conversador , como sempre, se transformou em um bicho! Elas me falaram que ele ficou possesso de ódio ao receber a minha proposta. Aquilo foi mais uma entre várias facadas no meu peito. Na hora senti uma forte depressão e deixei pra lá! Pensei comigo mesmo: eu ainda me iludo em querer ter o direito de construir a minha vida sexo afetiva com alguém, sou mesmo um idiota, isso não é e nunca será pra mim!
Pois é, as minhas amigas continuaram dando pra quem elas quiseram, inclusive para o motorista de ônibus. Mas eu já tive “amigos” que eram promotores de supermercado e que transavam também com as balconistas e todo mundo às escondidas.
No emprego, eu sempre reparo aquelas pessoas com cara de “éticas”, aquelas mulheres alegres, aqueles homens simpáticos, mesmo quando o trabalho é pesado, por que será que mesmo em condições adversas os heteros estão sempre mais alegres?
A resposta é óbvia: porque todos os lugares para eles são chances de se ter um prazer sexual ou afetivo com alguém.
Já pra mim, todos os locais, são rigorosamente concebidos para as suas finalidades: trabalho é para trabalhar, ônibus é para transportar, mercado é pra comprar coisas, vizinhos são só vizinhos, enfim, é uma vida triste, não existe nada que seja implícito pra mim para me dar algum prazer afetivo ou sexual. O padrão pra mim é: se ninguém foi atrás de você, não é porque estão fazendo joguinho psicológico para você ir atrás, é porque ninguém lhe quer mesmo. Realmente, muito triste!
