Namorados se beijando me dão inveja

Se tem uma coisa que me dá inveja é ver um rapaz e uma mulher, ambos felizes, se beijando, isso me constrange, me causa tristeza e muito rancor da vida. As vezes eu passo nos locais onde têm jovens como barzinhos, faculdades, pontos de ônibus e trem, vira e mexe nesses lugares tem um maldito rapaz sortudo e uma maldita fêmea sortuda exercendo a sua sexualidade livremente beijando a boca de quem a satisfaz. Geralmente as pessoas que eu vejo fazendo isso aparentam ter de 13 a 25 anos, enquanto isso, eu beirando os 50 anos, nunca beijei, nunca fiz sexo, nunca nem se quer dei um “selinho” em quem eu gostei.

Eu cresci a vida inteira vendo minha mãe dar pra outros caras, meus amigos se beijando na rua com as garotas que eles escolhiam, vivi vendo pessoas ao meu redor fazendo de tudo com outras pessoas mas eu mesmo, nunca se quer tive alguém para pegar nas mãos e dizer que amo, todas pessoas que eu gostei foram verdadeiras bestas selvagens que topavam qualquer coisa para pegarem qualquer tipo de mulher , fosse comprometida ou não, mas nenhuma delas se quer me deram uma chance. A minha vida toda eu via os adolescentes namorando e sentia um ódio descomunal afinal os rapazes que eu gostava, eu é que tinha que entende-los, saber que eles gostavam apenas de mulheres e me conformar, mas ninguém entendia que meu coração escolhia assim , pronto e acabou. Quando se nasce homossexual, você tem descobre que você tem que entender os motivos de todo mundo mas ninguém entende os seus.

Eu poderia pensar que os outros homossexuais que gostam de gays vivem melhor, mas pode ser um equívoco: o que mais eu vejo é gay reclamando que o sexo que eles fazem é algo efêmero, volátil, insatisfatória e que no outro dia a pessoa nem quer mais papo com eles, não existe ciumes, paixão e nada, parece uma relação masturbatória  e mecânica, transam só para saciarem a sua vontade pontual de forma robótica. Ou seja, a diferença entre gays comuns e gays como eu é que eu não aceito sair com aquilo que não me satisfaz de verdade. Não quero beijar ou dar a bunda pra outra bicha com jeito de “homem” só pra dizer que fiz sexo com alguma coisa, mas enfim, isso é eu, eu sou assim.

Hoje eu estava indo pegar um ônibus de noite , eu cheguei no ponto e vi um casal: um rapaz e uma moça estudantes, ela colocava os braços livremente nos ombro dele , ela o tratava feito um bichinho de estimação e depois dava-lhe beijos que se escutava , aquele barulho de beijo com cuspe explodindo entre as bocas se ouvia de longe, todo mundo ao redor achava normal, eu via que ambos estavam felizes, tanto é que o casal não satisfeito em beijar na rua, começou a dar em curtos espaços de tempo beijos dentro do ônibus também. Isso me deixou com ódio, inveja e tristeza, na hora fiquei com vontade de olhar pra baixo e chorar, chorar porque essa era a coisa que eu mais queria na minha vida e que nunca eu vou poder ter: poder beijar com alegria alguém e não ser desprezado, maltratado e espancado como SEMPRE EU FUI graças à essa condição amaldiçoada de nascer homossexual num planeta onde isso é considerado a pior coisa de todas. Essas meninas podem beijar quem elas quiserem, podem ter namorados, meus amigos também podem beijar quem eles querem, minha mãe vagabunda também, mas eu não. Eu não, eu ninguém gosta, ninguém quer, eu não posso planejar em montar a minha própria vida afetiva com quem eu escolho porque nunca ela será possível, afinal eu sou um homossexual , negro, pobre e feioso, e mesmo se eu fosse rico, eu não vejo muita diferença na vida dos homossexuais brancos e ricos, eles apenas fingem com mais felicidade mas eu noto que nem eles são felizes de verdade: se juntam com outras bichas que no fundo viram mãe e filho, não existe aquela paixão que faz os heteros fazerem loucuras por quem eles gostam.

As vezes eu vejo rapazes que me causam no peito tanta vontade de amá-los que eu quase tenho vontade de fazer como um felino e pular em cima implorando um pouco de carinho entre suas pernas com o rabo para cima, mas eu me seguro, me recalco, finjo-me de frio, comportado e indiferente mas dentro de mim está gritando, doente querendo amar e ser amado, então eu começo a chorar por dentro e engulo a dor, engulo o instinto que todos têm mas que só eu não posso pôr em prática. É sempre aquilo: o menino é bonito, é viril, é interessante mas NUNCA É PRA MIM!  É por isso que pra mim a vida é uma grande prisão, uma bolha, uma penitenciária maldita e que eu vou odiar por todo o sempre.

Vejam aí esse rapaz da foto, parece de perfil ser bem o tipo que eu gosto, eu gostaria de agarrá-lo, despenteá-lo e pegar pra mim pra sempre, mas só essa mulher e outras é que podem te-lo, só elas nasceram as privilegiadinhas do mundo, as escolhidinhas da vida.  Um rapaz desse me dá vontade de me matar porque eu sei e sinto que uma desgraça dessa jamais irá querer nada com um viado, quanto mais comigo.

Dizem que a falta de amor e alegria em nós nos causa diabetes, deve ser verdade afinal cada dia eu estou com diabetes piorando, cada dia mais a minha visão fica embaçada. Cada dia mais a minha vida vai passando e eu vejo gente de 14, 13, 20 anos tendo amor e eu nada. É por isso que é inevitável querer morrer, morrer e sair escondido desse mundo que me odeia, esse mundo de gente falsa que prega a o fim do preconceito mas que é mais preconceituoso que tudo. Tipo o cara que eu gostei e que vivia dizendo que o preconceito é ruim, o dia que eu o tentei adiconá-lo no Facebook, ele me bloqueou. Pois é, essa é a merda de vida que um gay como eu está condenado a ter injustamente.

Bom, eu nem sei por que eu comento essas coisas em blogs, afinal ninguém comenta bosta nenhuma. Dá a impressão que eu tou falando pro nada!

3 comentários

  1. Bom, a verdade é que comentar em blog que não responde não tem muita graça, sabia? Simplesmente postar o meu comentário aqui e nunca ter uma reação exige uma certa boa vontade. Eu mesmo nem sei porque me dou ao trabalho. Se você fosse um pouco mais interativo, eu e os outros que passam aqui, olham e seguem em frente participariamos mais. Mas é você que manda aqui, e é você que quer este silêncio.

    Agora falando do post, vc falou uma coisa certíssima, e que eu nunca tinha pensado antes: ser gay é realmente ter que entender o motivo e o sentimento dos outros, mas não vice-versa. É uma relação assimétrica.

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