Eu queria saber o que é carinho, eu queria saber o que é amor.

As mulheres no ambiente de trabalho quando têm um homem bonito e bem arrumado, ficam todas ouriçadas. Claro! Elas sabem que podem demonstrar a felicidade que elas têm ao outro, elas podem demonstrar que estão afim de ter uma relação sexual com qualquer homem através dos seus sorrisos em conjunto de uma falsa simpatia, elas passam mais perfumes, capricham nas roupas, usam cremes, mudam o penteado e saem por aí puxando assunto com qualquer um na intenção de chamar atenção para chegar perto de quem as interessa.
Já eu que sou homossexual, quando noto um rapaz bonito que me interessa, eu tenho que baixar a cabeça para não incomodá-lo.

Hoje eu senti uma necessidade de ser amado, uma necessidade de ter carinho de quem eu gosto: eu estava tentando fazer algumas brincadeiras bobas com uma colega minha para ver se me distraia e arrancava um pouco te atenção, pois bem, ela nem olhou pra mim, nem se quer me respondeu e ficou no celular dela enquanto eu falava sozinho.
Eu parei de tentar chamá-la e percebi como é não ter ninguém para ter intimidade, como é não ter a importância de ninguém que gostamos, eu notei naquele momento como eu, na condição de homossexual que gosta de heteros, está sozinho e abandonado no mundo. Eu não posso brincar com ninguém, afinal as pessoas na minha idade não têm mais intimidade com outras  a não ser se forem cônjuge uma da outra.

Nesse mesmo dia me olhei no espelho e me perguntei: o que é que eu sou? Uma pessoa que não sabe para que está vivendo, uma pessoa vazia que não tem alma, que não tem ninguém, que só vive de obedecer os outros para ganhar algum dinheiro. Eu sou uma pessoa que nunca foi paquerada, que nunca foi desejada, uma pessoa sem nenhuma relevância biológica. Gosto de homens que eu não posso gostar. Gosto de pessoas que me odeiam. Eu só consigo gostar de homens verdadeiros; gays, por mais que sejam bonitos, sempre existe neles uma nuance feminina que anula qualquer possibilidade minha de sentir afeito ou atração por eles, mesmo aqueles gays que os outros gays consideram machos.

Eu gostaria muito de saber o que é se apaixonar e ter intimidade com uma pessoa que eu escolhi para viver comigo mas até hoje, única intimidade que eu tive foi com a minha mãe que é prostituta, alem dela, eu nunca tive intimidade com nenhum outro ser humano. Eu nunca acariciei ninguém , eu nunca beijei quem eu tive vontade de beijar nem se quer no rosto. Eu me olho no espelho e me sinto uma pessoa sem vida, uma pessoa que só sabe viver para comer e dormir e mais nada. E com o passar do tempo eu sinto que se você não tem relevância sexual para ninguém, nem as amizades mais querem saber de você. Se você não se casa, não namora, as pessoas nem perto de você querem chegar.

E todos os dias é assim, você acorda, vai trabalhar, volta e nada importante e bom emocionalmente lhe acontece. Ontem eu estava indo embora para a minha casa e vi um rapaz bonito vindo à minha frente, ele não baixava a cabeça para andar ao contrário de mim, me senti tão ofendido e humilhado por ter passado por aquele moço que na hora fiquei muito triste, triste por saber que provavelmente aquele rapaz não ficaria mais do que um mês sem se relacionar sexualmente ou afetivamente com alguém, enquanto isso, eu beirando a casa dos 50 anos e nunca fiz sexo, nunca namorei, nunca beijei, nunca abracei, essas coisas nunca existiram pra mim, é por isso que eu não me sinto tendo uma alma, não me sinto vivo, não me sinto  relevante e tenho vontade de gritar, mas gritar muito, gritar pedindo socorro sabendo que eu não posso ser socorrido por viver numa bolha, a bolha de se nascer diferente e jamais participar da sociedade.

Hoje eu vi o Twitter do rapaz que eu gosto e fiquei mais triste ainda. Lá estava ele, brilhante e chamando a minha atenção mas ao lado de sua namorada lhe dando um beijo. Isso me ofendeu tanto. Os rapazes heterossexuais que eu gosto alem de me ignorarem completamente como se eu fosse um pedaço de folha morta caída no mato, ainda se exibem com as suas mulheres “maravilhosas” para mim, eu não me sentiria bem em saber que alguém gosta de mim e mesmo assim ficar com outra pessoa à sua vista. Mas quem disse que na vida impera os meus valores.
As pessoas podem amar, serem amadas, elas fazem sexo, vivem sorridentes por isso mas eu não, eu só sirvo para trabalhar, ter doenças, comer, dormir e mais nada, não adianta reclamar, não adianta pedir a deus, ao diabo a ninguém, quando o problema é crônico o consolo é esperar a morte, afinal por bondade, nada no mundo parece mudar.

Seria tão acalentador pra mim saber que alguém que eu valorizo e gosto, gosta de mim! Dentro de mim existe uma coisa infeliz que não se sossega nunca tentando resolver esse maldito problema que é gostar de pessoas que nunca gostam de mim. É sempre desprezo, desprezo e mais desprezo! A gente que é gay assim, sempre anda na rua procurando um  possível olhar que talvez seja do rapaz que nós gostamos, procuramos uma migalha de afeto que nunca aparece, a sua idade passa, as coisas mudam, prédios são construídos, governos mudam, guerras acontecem mas a sua vida não muda, ninguém sente a sua falta, ninguém liga para a sua existência, ninguém luta por você!
As mulheres ainda podem ter um cafajeste que usem o corpo delas por uma noite, nós gays que gostam de heterossexuais, nem isso podemos ter, ninguém nos olha com cobiça na rua a não ser outras mulheres ou outros gays, é tão triste saber que a sua vida é uma prisão, é uma bolha que nunca muda a não ser para pior.

Tudo isso é como viver-se em um país estrangeiro sem saber falar a sua língua, você fica preso em uma bolha, você não sente as outras pessoas e nem as outras pessoas lhe sentem, você fica condenado a viver eternamente na bolha do desprezo, da indiferença, da irrelevância, ninguém sente falta do seu corpo, ninguém sente falta da sua personalidade, ninguém tá nem aí você se você cair morto na rua.

Vivo em uma bolha porque sou homossexual, negro, feio, filho de uma prostituta, pobre e sem nenhum talento ou dom que me diferencie dos demais. Não sou superior a ninguém em nada, e se for, esse alguém rapidamente me supera. Não recebo cartas de amor, não recebo poemas, ninguém abre a porta do carro para eu entrar, ninguém jamais fez nenhuma loucura por mim. Pra que eu quero viver assim? Se for para ser tão irrelevante, seria melhor ser uma poeira pairando no espaço, afinal a poeira não sente desejo sexual e nem vontade de relacionar com ninguém, eu sinto, sinto uma vontade enorme em ser íntimo de alguém que eu goste, mas não adianta gritar, implorar ou pedir, a minha vida é só isso: viver pra pagar contas e não ir morar na rua. só.

 

 

 

 

 

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