Quanto mais eu olho o que está à minha volta mais eu fico triste, sem graça, sem motivo para viver nessa bosta. No bairro de Vila Madalena , uma vez ou outra, vemos um casal de homossexuais ousando a se aventurar dando as mãos, eles são sempre da mesma forma: dois homens entre 23 e 29 anos, brancos, usando sempre um traje que mostre as suas pernas para fazer de conta que estão praticando caminhada ou outro exercício aeróbico qualquer num domingo chato de sol, geralmente usam barba e óculos de sol, não esboçam alegria alguma com o ‘namoro’ que tentam conduzir, uns forçam uma segurança que não têm ao andarem na rua, outros ficam olhando para os outros parecendo procurar aprovação ou tendo medo de apanhar. Eles se dão as mãos nas ruas e não parece ser por causa de uma paixão avassaladora mas sim por que eles são os pioneiros de uma causa humanitária que precisa ser defendida, não parece existir amor entre os membros do casal mas sim uma missão vanguardista que talvez dê frutos reais daqui uns 100 anos a frente. Imagine só: um negro andando com trajes de luxo na rua, no meio dos brancos, um ano após ao fim da escravidão no Brasil lá pelo ano 1889, certamente o tal negro não iria se sentir muito confortável mas passaria o recado ao mundo que se ele pode, qualquer um pode também. Bem, é uma missão magnânima mas não tem nada de amor, sexo e paixão, é apenas uma luta por humanidade. É isso que eu sinto quando eu vejo um casal gay comum na rua.
Também é curioso da minha parte eu não sentir inveja, cobiça ou tesão em casais gays, eles não tem cara de felicidade, eles tem cara de uma causa humanitária, uma luta , um ideal. Não me excita em nada. São sempre dois homens com cara de mulheres sérias do parlamento alemão que acordaram segunda feira para irem trabalhar numa atividade muito sofrida e pesada. Sei lá, parece mais uma missão do que um relacionamento.
Agora quando eu vejo um casal hetero, eu me mordo de inveja, hoje mesmo eu vi uma mulher gorda e feia, tinha cara de um peixe boi, cabelos vermelhos e se vestia como caixa de supermercado, um outro cara ficava na frente dela a agarrando, a empurrando contra a parede como se quisesse entrar dentro dela, aí ela reclamava sem muita força usando uma cara de cu: ‘ –, ai, você tá pisando no meu sapato!’
Como tive inveja daquele casal hetero! Mesmo eles não sendo bonitos e ricos, me senti um nada perto deles.
Aquela mulher feia com uma cara de vagabunda e sem nenhuma roupa combinando, com um cara se esfregando nela intensamente a ponto de pisar-lhe os pés para agarrá-la ainda mais! É a terceira vez que eu passo nesse mesmo local e encontro esse casal sem vergonha, o casal não estava querendo mostrar para o mundo que podiam dar as mãos, eles estavam se agarrando mesmo e foda-se o mundo! A mulher ainda fazia uma cara de pouco caso! Enquanto isso, eu passando ali, com mais de 50 anos de idade sem nunca ter nem dado um selinho em algum ser vivo da face da terra.
Passa ano, entra ano é sempre a mesma coisa os heteros de 13 anos ficam na rua se agarrando com as suas garotas, com suas empregadas, com suas funcionárias, sejam aleijados, ricos, pobres, feios, bonitos, todos eles estão sempre com a vida sexual em dia e com todos os locais favorecendo o seu acontecimento. Hoje em dia, de adolescentes a policiais militares nas ruas, temos gente o tempo todo no celular conversando no Whatsapp sobre sexo, amor e putaria o tempo todo, todos feliz, alegres e com os olhos brilhando; Claro! quando a pessoa que nos excita nos dá atenção ou também se excita por nós, mesmo que seja só por sexo, nos sentimos adultos, com autoestima alta e donos de si, felizes e confiantes achando que a nossa vida está em nossas mãos. Agora quando não temos isso, quando todo mundo que gostamos nos ignora e não nos enxerga, nos sentimos crianças, imaturos, inseguros, errados e tristes.
Antes, na virada do ano aqui onde eu moro, eu ia feito um trouxa para a praia ver os fogos, as festividades e a movimentação que acontecem naturalmente, pois é, e eu sempre estava lá, no meio daqueles rapazes heterossexuais escandalosos, alegres e de classe média que entram de carro importado no mar pra se aparecem, aquela energia de zoeira pesada que eles têm me deixa louco, eu os olhava com um grande fascínio, uma paixão e até mesmo com grande tesão, tudo isso acompanhando uma tristeza profunda e patológica, uma tristeza que deve se igualar à tristeza de quem matou os pais num rompante e saiu pra rua pra esquecer mas não esquece… Eu ficava olhando um por um desses caras gritando efusivos na orla, bonitos e acompanhados, não sei se gostava deles ou se tinha inveja, eu acho que são as duas coisas, afinal aqueles caras de 25 anos, cheios de testosterona, dinheiro, oportunidades e a vida sexual fluindo de forma até excessiva, não importa, bem ou mal eles estavam vivendo intensamente a vida deles e eu ali do lado, num contraste gigantesco: feio, apagado, o eterno coadjuvante da vida feliz dos outros, aquele que nunca é notado por ninguém, aquele que não falta, esbarrando em pessoas que estão anos luz à minha frente em termos de sexo, amor e felicidade! Como isso me deixava triste, com uma dor por trás dos olhos, dor de quem deseja chorar muito mas não pode. Dor de saber que não existe uma viva alma na terra para me fazer feliz afetivamente assim como não parece existir para nenhum gay. Por isso parei de ir em qualquer evento e festa, é sempre tudo a mesma merda: os rapazes heteros zoeiros sendo felizes e eu um inseto que todos pisam sem notar.
Eu sinto muito a falta desse carinho masculino, eu sonho com essa heterossexualidade amiga que só as mulheres usufruem. E é por isso que passa ano, termina ano a minha vida é assim, sem graça alguma, só sirvo para comer e dormir , mais nada.
E o mais irritante de tudo isso: a fartura sexual dos heterossexuais é gritante e está em todos os locais! Você liga a TV , vai ver novelas infantis que deveriam ser puras e lá já mostra crianças tendo compromissos amorosos e relações afetivas com outras crianças! Naquele programa Altas Horas nos sentimos profundamente envergonhados: heterossexuais perguntam tudo sobre a farta vida sexual deles enquanto a gente que é homossexual e gosta de heterossexual passa fome morrendo virgem. No dia dos namorados então nos sentimos um lixo humano! Vira e mexe os nossos parentes estão lá transando com alguém e você se sente mais lixo ainda. Na escola existe a aula de sexologia, todos alunos se divertem aprendendo como colocar um preservativo numa banana, eles riem, as meninas ficam fazendo aquela zoeirinha gostosa com os meninos, mas você nota que aquilo só entre eles, para a vida deles, mesmo assim você tem que ficar nas aulas assistindo toda aquela humilhação por ter que aprender a sexualidade deles! Eu até hoje com mais de 50 anos nunca nem peguei num preservativo enquanto isso essa criançada com 11 já transando a rodo por aí nos cantos escondidos, não é uma humilhação?
Pois é, o ano vai passar de 2019 pra 2020 e os meus problemas vão continuar os mesmos com a tendencia de piorarem! Enquanto isso, a vida das pessoas heterossexuais que me fazem ficar depressivo, continuam melhorando cada vez mais. É realmente triste eu não sentir atração por outros homossexuais, é uma lástima, parece um pouco com a ‘maldição de Kassandra’: você sempre sabe que vai se ferrar e não tem como evitar.
Eu me lembro que nos anos passados eu gostava de um cara famoso que eu tentava ter contato com ele, ele nunca me deu a mínima, eu fiz várias coisas por ele sem nenhuma resposta, todos anos ele lá, feliz, com a vida sexual farta, todo ano trocando de mulher, agora ta lá ele exibindo a nova mulher e a filha vadia que fez nela, parece um troféu pra esfregar na nossa cara! Eu até bloqueei esse filho da puta pra não ter mais o dissabor de vê-lo ostentando a sua vitoria sexual reprodutiva.
Pois bem, 2020 será a mesma merda! Continuarei gostando de homens chamativos e heterossexuais que terão 875846584654365746375634765 mil mulheres para eles transarem alegres, felizes! Consequentemente a estima deles irá lá no céu, favorecendo uma ótima carreira pra eles, empregos, relações e sucesso, enquanto isso, eu vou cada vez mais esperando o alento da morte pois não tem merda nenhuma que seja capaz de mudar a minha vida sexual(ops! falta de vida!) e afetiva para melhor com eu sendo eu mesmo.