Nunca namorei ninguém

Olá, o meu nome é Ernst Röhm, sou uma pessoa que nunca namorou, beijou ou fez sexo com alguém.

Quando eu tinha 11 anos, eu fingia me interessar por uma menina chamada Rosemeire, bom era só para me aparecer e ser aceito, mas nem assim eu tive sorte. Rose era muito chamativa e galinha, adorava flertar com os meninos mais bonitos da rua usando daquelas brincadeiras de “beijo, abraço e um aperto de mão”, confesso que sentia um certo ciumes dela, mas atração sexual mesmo eu sentia pelo seu irmão.

Quando eu entrei para a escola, lá no colégio EEPSG Marina Cintra da Consolação, eu tinha muito medo, medo das professoras, medo dos alunos, medo da diretora, medo do prédio, enfim, medo de tudo.

Todo ano letivo eu me apaixonava por um ou dois meninos, o primeiro deles se chamava
Alexandre Nilma, ele tinha olhos azuis e era branquinho, tive uma paixão doentia por ele, hoje ele está parecendo um homem velho da roça!

Todo ano eu tinha paixões na escola, mas quando o ano letivo terminava eu ficava muito triste por saber que possivelmente eu nunca tornaria ver quem eu gostava, além do mais, eu também não conseguia ter relação nenhuma com ninguém.

Eu vivia suspirando por caras que jamais me dariam uma chance, mesmo assim, quando se é jovem, você acredita no impossível, por mais estúpido que seja, você sempre acha um dia vai acontecer…

Eu quando gostava de um menino, eu ia para casa e ficava pensando muito nele, eu com 14 anos tava lá todo aéreo, pensativo ouvindo George Michael – Praying For Time , todo mundo estranhava o meu comportamento quando eu escutava essa música, eu ficava olhando longe para o nada, eu sempre tentava saber o nome dessa canção e quem a cantava, na época ela me fazia lembrar a paixão que eu tinha por um menino chamado Hélio que morava no antigo ed São Vito (perto do mercadão municipal de SP) , eu suspirava só pensando nele, ele era muito carismático e tinha um olhar penetrante, o signo dele era escorpião. Fiquei durante anos querendo saber qual era essa música que me fazia lembrar dele no fim da tarde saindo do Marina Cintra para pegar o ônibus e sumir às 18h.

Fiquei 24 anos procurando sem sucesso quem cantava essa música e qual era o seu nome sem sucesso, pra mim era Freddie Mercury que cantava, sondei as músicas dele e não era nenhuma delas.

Por uma ironia enorme do destino, 24 anos depois, estava eu lá apaixonado por um jogador alemão também do signo de escorpião. Quando fui eu todo receoso pegar o meu primeiro voo em um avião para ir para a Alemanha me sentir perto desse jogador, adivinhem que música começou a tocar no player da minha poltrona lá pela madrugada enquanto eu sobrevoava o terrível oceano atlântico?
Era a tal música que havia marcado a minha paixão na puberdade, a Praying For Time do George Michael que eu já havia desistindo de saber quem cantava. Nossa! Cheguei em Berlin e fiquei ouvindo essa música milhares de vezes. Que coisa heim!

Nesses anos todos eu sempre imaginei que não era problema para um homossexual, gostar de um rapaz hetero, eu achava em minha profunda inocência que quando um rapaz heterossexual me encarasse era sinal que ele gostava de mim! Juro, eu me sentia muito feliz por ser encarado por quem eu gostava! Era quase um presente!

Os anos foram se passando eu fui ficando mais amargurado pois eu já havia levado o meu primeiro fora provando a mim mesmo que a vida era uma porcaria pra mim. Ninguém gostava de mim.
Sim, alguns meninos que gostei me olhavam, mas isso não queria dizer absolutamente nada de romântico, eles me olhavam provavelmente por eu ser estranho e caricato demais.

Aos poucos fui vendo os efeitos de não se namorar com ninguém sobre a minha vida: eu não escovava os dentes, não ligava para andar sujo, depois que levei o meu primeiro fora isso virou padrão, eu não queria saber mais de me cuidar em absolutamente nada. Pra que? Vou me cuidar só para eu me ver bonitinho no espelho? Me sentir bem comigo no espelho não alivia o meu desejo de afeto e sexo, então eu mandava tudo se foder!

Eu tinha muito ódio por ver todos meus amigos, parentes e mãe namorando, tendo vida sexual e eu não. Tanto é que eu posso dizer que o precursor desse blog era um caderno velho universitário que eu tinha e que havia sobrado da escola, onde eu escrevia com muito ódio as minhas frustrações.

Como eu sabia que ninguém iria me querer nunca, ia mal arrumado para o colégio, no emprego eu nunca tava nem aí para aparência, além disso, eu não tinha vitalidade pra nada, eu tinha vontade de me entregar pra morte por saber por mais que eu quisesse ter alguém, a minha vida já havia determinado peremptoriamente que eu não deveria ter ninguém.

O fato de eu nunca ter namorado com ninguém contribuiu para eu relaxar no cuidado com o meu corpo e não ter força para ambição nenhuma, passei a desacreditar de mim mesmo em tudo, acostumei a sempre ser um perdedor.

Isso também influenciava o meu humor, vez ou outra eu me via agredindo as pessoas perto de mim ou então tendo um mal humor grosseiro com todos a minha volta.

Eu me sentia frustrado pois a TV vivia pregando a felicidade que era ter vida sexual ativa. Eu odiava ver as pessoas tendo namorados, sexo e adultérios.

Quando alguém namorava perto de mim, eu me sentia inferior, mal, afrontado, gozado, me sentia um besta. Eu deseja todo tipo de coisa ruim para os casais de namorados malditos que eu via pela minha frente. Eu queria ver o sangue deles todos! Por que eles poderiam ter tudo que o sexo poderia oferecer e eu não?

Aí fiquei mais irritado ainda pois todo mundo começou a me dizer que eu não tinha ninguém porque eu escolhia muito ou porque eu acreditava que todo viado era feminino.

Bom, eu não sei explicar mas eu não escolho muito nada, simplesmente quando eu vejo um cara que me atrai, é algo imediato, a minha boca saliva e imediatamente eu já estou querendo ele pra mim e 100% das vezes esses homens que me encantam são homens heterossexuais, homens gays por mais bonitos e “másculos” que sejam, eu não consigo sentir absolutamente nada por eles, é como se fosse uma mediunidade diferente, se eu sinto atração genuína por um rapaz, pode se dizer que ele é heterossexual sem nenhuma dúvida!

Eu sempre sonhei em ser tratado feito mulher , sempre sonhei em ter um marido bonitão, maurinho, militar que sempre ficasse exigindo de mim relatório de onde eu andei e com quem eu andei, acho muito delicioso para o ego alguém bonito sentir ciumes da gente, isso nos faz nos sentirmos importantes.

Hoje já passei dos 50 anos, vivo a vida criando fakes de mulheres impetuosas sexualmente me distrair com homens bonitinhos pela internet, além disso, para me acalmar me masturbo quando posso e fico pesquisando casos sobre ocultismo como aqueles de EQM, vidas passadas e seres manipuladores da vida, essas bobagens ajudam a nos esquecer que somos indesejados pela sociedade e infelizes no amor, desprezado por todos aqueles que gostamos.